terça-feira, 7 de julho de 2009

Painel 07/07

NY: SAÍDA DOS PACOTES DEVE GERAR CONTROVÉRSIA EM ENCONTRO DO G-8

NY: SAÍDA DOS PACOTES DEVE GERAR CONTROVÉRSIA EM ENCONTRO DO G-8

Nova York, 7 - Economistas em Wall Street avaliam a situação dos estímulos das políticas fiscal e monetária no mundo como um tema sensível nesta reunião do G-8, em L'Aquila, na Itália. Em antecipação ao encontro de três dias que tem início nesta quarta-feira, os analistas em Nova York chamam atenção sobre a divergência entre os Estados Unidos e a Alemanha, com este último pressionando por planos para saída dos pacotes de estímulos, diante do temor que a atual expansão fiscal e monetária irá alimentar a inflação no mundo.

Os profissionais estimam que o governo dos EUA, com suporte do Reino Unido, deve se posicionar favoravelmente à manutenção do estímulo às políticas fiscal e monetária até que apareçam sinais claros de que há estabilidade no cenário econômico mundial. Hoje, segundo a Fox News, em Moscou, o presidente dos EUA, Barack Obama, teria sugerido que não descarta um segundo pacote federal. Sobre o estímulo já em andamento, Obama acrescentou que o processo não poderia ser interrompido rapidamente, uma vez leva tempo para que os reflexos apareçam nos projetos dos Estados e dos municípios no país.

De outro lado, há a expectativa de que a Alemanha irá argumentar em favor da elaboração de uma estratégia conjunta para delinear a saída, ou encerramento, das medidas extraordinárias, em especial de expansão da política monetária implementadas em diversas economias. A chanceler alemã, Angela Merkel, tem sido consistente ao reiterar que não é a favor de uma segunda rodada de medidas de estímulo e tem destacado a necessidade de haver conversas sobre planos para evitar que a inflação dispare no mundo em função dos planos dos governos para o combate à recessão. No encontro em Washington, há pouco mais de 10 dias, Obama e Merkel disseram que conversaram sobre o G-8, falaram em progresso, mas evitaram a questão dos estímulos das políticas federais.

A equipe da consultoria norte-americana IHS Global Insight para assuntos soberanos destaca que pode ser cedo demais para discutir saída dos estímulos diante dos riscos que ainda pairam sobre as economias mundiais. A instituição cita projeção de declínio de 2% para a economia mundial neste ano e prevê que o PIB do G-8, em particular, pode ficar em um intervalo entre -5% a -9% no mesmo período, sem falar no colapso do comércio internacional.

No detalhe, o economista-chefe do Goldman Sachs, Jan Hatzius, não vê com preocupação a habilidade do Federal Reserve para sair do posicionamento monetário atual. "Há inúmeras formas para articular um aperto das condições monetárias. A perda de controle em caso de aceleração da inflação parece muito improvável", afirma. Em oposição, Hatzius diz que se preocupa com a habilidade do Fed em responder a um enfraquecimento maior da atividade econômica ou mesmo da inflação. "Surpresas negativas são mais prováveis do que positivas", adverte. Segundo o economista, haveria muito mais dificuldade em articular flexibilização suficiente para lidar com enfraquecimento adicional da economia.

Os analistas em Nova York acreditam que é improvável que o comunicado do G-8 traga propostas para uma nova moeda de reserva internacional em substituição ao dólar. Apesar das manifestações recentes dos russos com foco para este debate agora no G-8, os analistas lembram que os membros do grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), reconhecidamente os principais interessados na questão, não conseguiram chegar a um consenso sobre o tema para a publicação oficial do comunicado da reunião que tiveram no dia 16 de junho, em Ecaterimburgo, na Rússia.
O G-8 reúne Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Estados Unidos, Itália, Japão e Rússia. Nesta edição na Itália, que vai do dia 8 ao dia 10, Brasil, Índia, China, México e África do Sul vão participar como observadores e integrar alguns debates e também deve haver um painel com a presença do Egito.

O dia mais importante para o mercado de moedas, diz um estrategista do UBS, será a quinta-feira, dia 9, quando haverá sessões de debates entre os membros do G-8 e os países emergentes convidados. Hoje, um conselheiro do governo russo afirmou que o país defenderá no G-8 uma nova moeda de reserva internacional. Na semana anterior, foram membros do governo chinês que se manifestaram sobre a questão. Mas os economistas não acreditam que o G-8 irá carregar um comunicado com proposição para uma moeda alternativa ao sistema de reserva mundial.

A razão principal para esta percepção é o argumento de que nem mesmo o bloco BRIC fez isso no comunicado que se seguiu ao encontro realizado em junho. Naquele encontro, acrescenta a equipe de estratégia cambial do HSBC, o resultado foi "previsível", sem menção da substituição do dólar no documento oficial divulgado ao final da reunião, na Rússia. Analistas avaliam que, se não houve manifestação formal entre os principais interessados para a substituição do dólar por uma outra moeda supranacional, é mais improvável ainda que qualquer menção apareça no comunicado doG-8, que, mesmo com a presença da Rússia, reúne as sete economias mais industrializadas do globo.

Na prática, argumenta o diretor para mercados emergentes do RBC Capital Markets,Nick Chamie, a substituição do dólar como a principal moeda de reserva global não é um risco para o curto prazo e demandaria um período muito longo para que isso pudesse ocorrer.

Para o Bank of New York Mellon para mercados globais, Michael Woolfolk, uma reestruturação no sistema monetário mundial neste nível seria algo prematuro pelo risco de exacerbar o que já é a recessão mais severa desde a Grande Depressão. Na prática, ele acredita que, ao longo do tempo, o sistema financeiro global irá se tornar menos dependente do dólar no ritmo em que a economia mundial também se tornar cada vez menos dependente da economia dos Estados Unidos. (Nalu Fernandes)

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