terça-feira, 6 de abril de 2010

Painel 06/04

ATÉ ONDE VAI A QUEDA DO DÓLAR?

Josué Leonel, jornalista

São Paulo, 6 - Depois de passar praticamente incólume pelas zonas de turbulência de março, o real entrou no mês de abril sem perder força em relação ao dólar. Em março, a moeda americana recuou 1,38% em relação à divisa brasileira e, nos primeiros dias deste mês, já acumula queda de 1,5%. Nesta terça-feira, o ensaio de retorno das preocupações com a Grécia chegou a dar um alento ao dólar, mas a pressão foi revertida e a cotação cedeu 0,45%, para R$ 1,7540.

Estas quedas não são propriamente expressivas. Mas é significativo o fato de elas terem ocorrido em um período em que não faltaram notícias e rumores que, teoricamente, poderiam ter sido capazes de provocar volatilidade no câmbio. No final de março, por exemplo, o mercado foi submetido a dois testes: a saída do diretor de Política Econômica do Banco Central, Mário Mesquita, e a incerteza sobre se o presidente da instituição Henrique Meirelles sairia ou não candidato a algum posto político.

A decisão de Meirelles de ficar no BC só foi anunciada no dia 1º de abril, já no começo da noite, após o fechamento do mercado. E, mesmo neste dia, com o mercado ainda desconhecendo a decisão, o dólar fechou em queda de 0,6%. Acrescente-se que no final de março e início de abril os dois principais pré-candidatos à presidência, José Serra e Dilma Rousseff, deixaram seus cargos para viabilizar suas candidaturas. Ambos são tidos como pouco simpáticos a um câmbio apreciado.

Também foi em março que o Banco Central divulgou medidas reformulando as normas que regem o mercado cambial. Operadores comentaram que pelo menos uma das medidas teria impacto potencial nas cotações: a que deu ao Tesouro mais que o dobro de prazo (750 dias, ante 360 na regra anterior) para comprar dólares para pagamento da dívida externa. De fato, a medida do BC chegou a provocar alguma volatilidade no dólar, mas de curta duração.

De volta ao patamar de R$ 1,75, o câmbio se aproxima agora do nível em que estava antes de o governo anunciar a taxação do IOF para o capital estrangeiro, em outubro do ano passado. O Banco Central sempre reiterou o discurso de que persegue meta apenas para a inflação e que não há um piso para o câmbio. Existe uma percepção vaga, contudo, de que nos níveis atuais o câmbio aumenta a angústia de exportadores e também atiça a chamada "ala desenvolvimentista" do governo, que não vê com bons olhos uma moeda muito apreciada.

A expectativa, agora, é com a possibilidade de o Tesouro realizar compras de dólar, tanto para antecipar pagamentos de dívida quanto eventualmente para a formação do Fundo Soberano. Resta saber se, caso estas compras se confirmem, elas serão suficientes para restabelecer a alta do dólar ou pelo menos impedir novas quedas.

(Josué Leonel é colaborador da AE e comentarista da Rede Eldorado)


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FECHAMENTO: APÓS SEIS PREGÕES EM ALTA, BOVESPA RECUA 0,27%

São Paulo, 6 - As notícias da Grécia levaram a Bovespa a uma abertura em queda, considerada uma realização de lucros após seis pregões consecutivos no azul. Mas esse movimento logo foi interrompido, para voltar apenas no final da tarde. Petrobras e Vale subiram e ajudaram a segurar o recuo do principal índice à vista.

O Ibovespa terminou o pregão em baixa de 0,27%, aos 71.095,65 pontos. No mês, sobe 1,03% e, no ano, 3,66%. Na mínima do dia, a Bolsa registrou 70.823 pontos (-0,65%) e, na máxima, os 71.711 pontos (+0,59%). O giro financeiro totalizou R$ 6,372 bilhões.

O sinal negativo do início do dia veio novamente da Grécia, com várias notícias veiculadas na imprensa trazendo de volta preocupações sobre a saúde do país. A principal informação foi a de que a Grécia estaria tentando renegociar o suporte obtido recentemente, com o objetivo de deixar o FMI de fora, já que suas condições de empréstimos são mais rígidas. O governo depois negou a notícia, mas o mercado não levou muito em consideração o desmentido, já que também influenciou o mau humor a notícia do jornal britânico Telegraph de que os bancos gregos estão sendo atingidos por uma onda de resgates conforme os cidadãos mais ricos e as corporações do país procuram levar seu dinheiro para o exterior ou para instituições financeiras internacionais consideradas mais seguras para seus ativos.

Os gregos, no entanto, acabaram sendo renegados a segundo plano no mercado acionário - na Bovespa, pelo menos em grande parte do dia. As bolsas europeias subiram, reagindo com atraso aos dados do payroll norte-americano, divulgado na sexta-feira, já que estavam ontem sem funcionar em razão do feriado prolongado de Páscoa.

Nos EUA, o sinal positivo também predominou, ainda mais depois da divulgação da ata do Fomc, no meio da tarde. Mas o Dow Jones, que virou para cima logo após o documento, não conseguiu sustentar-se em alta e voltou a cair. Fechou perto da estabilidade, em baixa de 0,03%, aos 10.969,99 pontos. O S&P avançou 0,17%, aos 1.189,43 pontos, e o Nasdaq ganhou 0,30%, aos 2.436,81 pontos.

No Brasil, as ações da Petrobras, Vale e Gerdau contrabalançaram a queda do Ibovespa, ajudadas pela alta do petróleo e dos metais. Na Nymex, o contrato para maio
subiu 0,25%, a US$ 86,84 o barril. Petrobras ON avançou 0,47% e PN, 0,19%. Vale ON terminou em baixa de 0,14%, mas a PNA avançou 0,36%. Gerdau PN subiu 2,10% e Metalúrgica Gerdau PN, 2,51%, Usiminas PNA caiu 3,35% e CSN ON recuou 2,02%. (Claudia Violante)

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