BlackRock aproveita queda e eleva apostas em Brasil
William Landers, diretor da gestora americana: Ibovespa pode chegar a 85 mil pontos nos próximos 12 meses
Para boa parte dos investidores e analistas locais, a queda de 3,43% do Índice Bovespa ontem - que fechou abaixo dos 67 mil pontos com o rebaixamento de Grécia e Portugal - inspira cautela. Mas para a gigante americana BlackRock, que administra cerca de US$ 3 trilhões em recursos em todo o mundo, é hora de comprar mais. "Estamos aproveitando hoje (ontem) para ajustar posições e aumentar um pouquinho o peso de Brasil", afirma William Landers, diretor da BlackRock responsável pela gestão dos fundos de ações dedicados à América Latina, que reúnem cerca de US$ 9 bilhões.
O mercado brasileiro, mesmo após a grande valorização no ano passado, continua entre as grandes apostas da BlackRock na América Latina, conta Landers. Nas carteiras da região, o país representa cerca de 75% do volume investido, além de ser o único que está com um peso maior do que o da carteira usada como referência. "A participação do Brasil está 5% acima do 'benchmark'", diz Landers. Esse percentual já foi maior, chegando a 7%, assim como também esteve 3% acima do referencial.
Todos os demais países estão com peso abaixo do referencial ou neutros. O México, cujo mercado acionário teve um desempenho bem melhor do que o brasileiro no primeiro trimestre, está com uma posição 2% abaixo do "benchmark". A bolsa mexicana subiu 9,86% em dólar no primeiro trimestre, ante 0,31% do Ibovespa. O motivo, segundo o diretor, é a maior exposição do México aos Estados Unidos, que surpreenderam positivamente. Chile e Colômbia estão com peso 3% menor e a participação do Peru é neutra.
Na visão de Landers, todas essas questões externas, como a crise nos países europeus, devem ser encaradas como oportunidades para elevar as posições. "Quando existem tensões lá fora, é natural que a bolsa brasileira reaja no curto prazo", diz. Mas tudo isso não impacta os fundamentos da economia, até por conta da baixa exposição global do país, explica o diretor. Ele lembra que, em 2009, as exportações brasileiras não representaram nem 11% do Produto Interno Bruto (PIB) doméstico. A queda da bolsa pode até atrair novos investidores globais, segundo ele. "O Brasil está entre os países com o menor grau de risco, dados os avanços macroeconômicos, e provou isso na crise de 2008", afirma. Nem mesmo o aperto monetário, que deve levar a taxa Selic para até 11,5% ao ano, é impeditivo, acredita Landers. Para ele, o Brasil vai crescer cerca de 6% a 7% neste ano, em função da base negativa de comparação, e 4,5% a 5% em 2011. "Não vejo uma freada grande no crescimento econômico no próximo ano", diz. "A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) amanhã (hoje) vai ser importante para acalmar os mercados e mostrar que o Banco Central não está atrasado em seus ajustes para controlar a inflação."
Landers mantém sua projeção para o Ibovespa de 85 mil pontos ao longo dos próximos 12 meses. E trabalha com uma relação de preço sobre lucro (P/L, que dá uma ideia de quantos anos o investidor vai levar para recuperar o que aplicou) de 11,5 vezes para o Brasil em 2010, comparado a 15,5 vezes da bolsa do México, cuja economia deve crescer de 3% a 4% neste ano. Além disso, o diretor espera expansão superior a 40% dos lucros das companhias abertas brasileiras neste ano.
"Olhando o cenário micro, há empresas bastante atrativas", diz. No portfólio de ações latino-americanas da BlackRock, há 35 posições em Brasil, de empresas de baixa liquidez ("small caps") às mais negociadas ("large caps"). Entre as dez maiores, oito são no mercado local, com destaque para Vale, Petrobras, Itaú, Bradesco, Cyrela e OGX. Ao longo do ano, a performance dos fundos de América Latina da BlackRock está em 0,71% em dólar até a última segunda-feira. Esse desempenho teve grande influência das alocações em Brasil, até pelo peso relevante do país nas carteiras. Mas está acima do Ibovespa, de 0,22% em dólar.
No primeiro trimestre, a grande aposta foi em empresas ligadas ao mercado doméstico, mas o que se viu foi uma recuperação das commodities, especialmente do minério de ferro. As ações cíclicas tiveram melhor desempenho, segundo Landers, até porque a economia da China não desacelerou como se esperava. Pelo contrário, puxou os preços das commodities, como o minério de ferro. "Aumentamos a exposição em empresas cíclicas, mas mantivemos o viés local."
Em relação à captação dos fundos, Landers diz que neste ano está praticamente zerada. "O único fundo que atrai recursos é um de "small" e "mid caps" da região."
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