terça-feira, 18 de maio de 2010

Painel 18/05

Cenário externo: Falta de alternativas para proteger o dinheiro da inflação aumenta procura por ações.

Por Chua Kong Ho e Zhang Shidong, da Bloomberg
18/05/2010


As ações chinesas experimentaram na semana passada o segundo "bear market" (jargão para um período prolongado de queda nos preços) registrado em nove meses. Mesmo assim, Pan Weiting, uma contadora de Xangai, de 27 anos, diz que não há hoje melhor lugar para aplicar seu dinheiro que as ações.

As regras chinesas limitam as opções de investimento a imóveis e papéis de empresas domésticas. Pan engavetou os planos de comprar um apartamento depois que os preços dos imóveis sofreram as maiores quedas já registradas e o governo proibiu empréstimos para a compra de segundos domicílios, com o objetivo pode esfriar a economia. Os juros que ela recebe sobre os 400 mil yuans (US$ 59 mil) que tem em sua conta bancária estão sendo corroídos pela alta da inflação. "O mercado de ações é a melhor escolha do momento e até mesmo os funcionários do meu banco disseram que não devo depositar mais dinheiro em minha conta", conta Pan.

Líderes do governo chinês que tentam esvaziar uma bolha especulativa que, segundo a Knight Frank LLP, elevou os preços dos imóveis em 25% no quarto trimestre de 2009 (contendo os financiamentos imobiliários), estão deixando a população do país com a maior taxa de poupança do mundo com poucas opções para investir seu dinheiro. "A questão agora é: quem é a garota menos feia da festa?", diz Victoria Mio, uma gerente de fundos sênior da Robeco Group, que supervisiona US$ 194 bilhões ao redor do mundo. O JP Morgan prevê que as ações chinesas terão uma valorização de mais de 40% em um ano.

O Citigroup, de Nova York, e o BNP Paribas, de Paris, preveem uma queda de 20% nos preços dos imóveis residenciais em 2010. Até US$ 59 bilhões, cerca de um terço do volume de transações imobiliárias realizadas nas 35 maiores cidades chinesas em 2009, poderão ser desviados dos imóveis para as ações este ano, segundo a Citic Securities Co., a maior corretora de valores chinesa com ações em bolsa.

Os US$ 7,2 trilhões em poupança de empresas e famílias chinesas estão sendo corroídos pela alta da inflação. Os preços ao consumidor subiram 2,8% em abril, superando a taxa de remuneração da poupança de um ano, de 2,25%. Os preços no mercado imobiliário tiveram uma alta recorde de 12,8% em abril e a economia cresceu 11,9% no primeiro trimestre de 2010, o maior número em quase três anos, depois que um pacote de estímulo de 4 trilhões de yuan e níveis sem precedentes de novos empréstimos de 9,59 trilhões de yuan ajudaram a estimular o crescimento no ano passado. "As ações chinesas serão a primeira opção de investimento porque as pessoas poderão continuar cautelosas em relação ao mercado imobiliário no curto prazo", diz Shi Lei, um analista do Banco da China em Pequim, o maior negociador de câmbio do país.

As ações chinesas são restritas a um número limitado de fundos estrangeiros e a maior parte dos investidores internacionais compram as ações por meio de bolsas de valores como a de Hong Kong. A BlackRock, de Nova York , está vendendo ações chinesas mediante o raciocínio de que o crescimento econômico da China já atingiu seu pico, enquanto a concorrente State Street Advisors, de Boston, tem para seus clientes uma recomendação "underweight", uma vez que as ações estão mais caras que as de outras nações em desenvolvimento. O índice da Bolsa de Xangai está sendo negociado em 15,6 vezes os lucros estimados para as empresas que o compõem, em comparação a um múltiplo de 12 para o índice MSCI Emerging Markets Index.

Hu Jielin, de 33 anos, dono de uma empresa de logística, diz que as ações chinesas ainda são a melhor opção de investimento. Ele gastou 9 milhões de yuans comprando apartamentos em Xangai, onde o preço médio das moradias subiu três vezes nos últimos cinco anos. Hu diz que não vai mais comprar imóveis por causa das medidas de contenção do governo. Em vez disso, ele pretende dobrar seus investimentos em ações nos próximos seis meses, para 3 milhões de yuans (US$ 439.284,00). "Os preços dos imóveis provavelmente darão uma pausa para respirar por causa do aperto atual", diz Hu. "Hoje, as ações são a melhor aposta." (Tradução Mário Zamarian)


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Queda traz oportunidade de compra, diz Mobius


Saeromi Shin, da Bloomberg
18/05/2010


As ações chinesas estão ficando mais atraentes, depois que diversas ofertas inicias e operações de derivativos levaram o índice Xangai a um "bear market" (fase acentuada de baixa). A afirmação é do investidor Mark Mobius, que supervisiona cerca de US$ 34 bilhões em ativos de mercados emergentes como presidente-executivo da Templeton Asset Management. "Comprar é uma boa opção, agora que o mercado está caindo", diz Mobius.

Segundo ele, o fato de as operações de abertura de capital terem "tirado dinheiro do mercado e derrubado os preços dos papéis não significa que as companhias ou a economia não estejam fundamentalmente sólidas". As empresas chinesas captaram US$ 23,5 bilhões este ano, cerca de US$ 4 bilhões a menos que o total do ano passado.

A queda do índice composto da bolsa de Xangai, o indicador de pior desempenho na Ásia, levou a especulações de que o governo chinês poderá reduzir as vendas de ações. O início dos negócios com derivativos no mês passado pode estar contribuindo para pressionar o mercado de ações, aponta Mobius. Os derivativos chineses vão "controlar as bolhas de ativos ao longo do tempo" e reduzir a média de preço sobre lucro (P/L) no longo prazo, diz Michael Kurtz, diretor de análises para a China do Macquarie Group, o maior banco de investimento da Austrália.

"Os futuros de índices contribuem para a volatilidade do mercado à vista", afirma Li Jingyuan, analista da Haitong Futures Co., de Xangai. "Mas as principais causas das quedas no mercado de ações continuam sendo desencadeadas pelos fundamentos, incluindo o colapso do mercado imobiliário e a crise da dívida na Europa."

O declínio deste ano levou as avaliações do índice para 20,1 vezes seus lucros históricos, menos de metade do ponto mais alto em cinco anos, de 49,75 vezes, apurado em outubro de 2007. As ações caíram depois que o governo aumentou em três vezes as exigências de reservas para os bancos. E, em meio às preocupações dos investidores, novas medidas serão implementadas para conter o crescimento dos empréstimos e a disparada dos preços dos imóveis

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