quarta-feira, 1 de abril de 2009

CENÁRIO-1: MERCADOS VALORIZAM AS BOAS NOTÍCIAS E IGNORAM AS RUINS

BOLSA

A Bolsa apagou completamente no começo da tarde a queda de 1,64% registrada pela manhã ao cravar alta de 1,75%, na marca dos 41.642 pontos, seguindo a melhora das bolsas norte-americanas e favorecida também pelo reposicionamento dos investidores em países emergentes num dia de ajuste à primeira prévia da carteira teórica do Ibovespa. Prova disso é que as compras hoje estão sendo alavancadas pelos investidores estrangeiros, que deram sustentação ao ganho do Ibovespa em março (7,18%). Até o dia 27 de março, o saldo de capital externo já estava em R$ R$ 2,162 bilhões. Nesta quarta-feira, mantido o ritmo de negócios, a Bolsa deve encerrar a jornada com volume financeiro de R$ 4,5 bilhões. Segundo uma fonte consultada pelo AE News, os cinco maiores compradores de Bolsa eram estrangeiros.

Analistas mantêm posição cautelosa em relação à recuperação da Bovespa, argumentando
que é cedo para dizer se esse movimento é sustentável, o que depende da evolução dos
indicadores econômicos norte-americanos e da percepção do mercado às medidas tomadas
pelos países desenvolvidos para sanear o setor financeiro e automobilístico. Mas não há dúvidas de que a Bolsa vem emitindo um sinal bem positivo.

Hoje, o que reabriu o apetite dos investidores estrangeiros por papéis brasileiros foi a melhora do ISM industrial de março nos Estados Unidos, que passou de 35,8% em fevereiro para 36,3% no mês passado, o melhor resultado desde novembro de 2008, ainda que continue indicando contração do setor manufatureiro. Os investidores também receberam com alívio a recuperação suave do indicador de emprego, para 28,1, ante 26,1 em fevereiro.

O dado de vendas pendentes de residências nos EUA também veio favorável e ajudou a
conduzir o mercado para o terreno positivo. Após atingir um recorde de baixa no mês anterior, as vendas de imóveis cresceram 2,1% para 82,1 em fevereiro. Esses dois indicadores encobriram o fechamento recorde de empregos no setor privado norte-americano em março - eliminação de 742 mil vagas - que imprimiu um tom negativo à abertura da bolsas. Também pesou logo cedo o pessimismo que cerca a reunião do G-20 no que diz respeito a soluções para a crise financeiro. O encontro será aberto oficialmente hoje à noite em Londres.

A preferência dos investidores hoje recai sobre os papéis do setor de construção, cujas ações foram muito penalizadas durante o movimento de desalavancagem dos estrangeiros no final do ano passado e, por isso, estão com os preços muitos depreciados. "Agora, com as medidas de estímulo para o setor anunciadas pelo governo federal, somadas à expectativa de novas reduções na taxa básica de juros, as construtores devem ser favorecidas", afirma o gestor de renda variável da Mercatto Investimentos, Roni Lacerda. Gafisa ON subia 5,15%; Cyrela ON +4,25% e Rossi Residencial avançava 3,51% às 13h56.

A recuperação moderada, de 1,8% da produção industrial em fevereiro ante janeiro, divulgada hoje cedo pelo IBGE, deixa espaço para novo corte da Selic entre 1 ponto porcentual e 1,5 pp na reunião do Copom do final do mês.

O mercado doméstico de ações também passa por um ajuste à primeira prévia da carteira teórica do Ibovespa válida para o período de maio a agosto. Com a saída de Unibanco Unit e a transformação de ITAU4 em código para a ação preferencial do Itaú Unibanco, resultante da união das duas instituições financeiras, o Ibovespa passou a contar com 65 ações, uma a menos que na carteira anterior.

Pela terceira vez consecutiva, os setores bancário e siderúrgico ganharam mais espaço dentro do Ibovespa. O setor financeiro passa de 15,560% na carteira atual para 15,714%. A participação da indústria siderúrgica subiu para 11,487%, ante 11,137%. Já os setores de telecomunicações (5,324%), transportes (3,837%) e varejo (3,885%) perderam participação.

As blue chips Petrobras e Vale conquistaram presença maior nessa primeira prévia do índice. Somadas, as preferenciais e ordinárias das duas empresas representam 35,986% da carteira, acima dos 34,930% do índice anterior.

Alguns operadores associaram o bom desempenho de Petrobras ao rebalanceamento da nova carteira teórica. Desde cedo, apesar da queda acentuada, de mais de 4%, do preço do petróleo na Nymex eletrônica, os papéis da estatal mostram evolução bem favorável. Por volta das 14 horas, Petrobras PN subia 0,98% e a ON tinha valorização de 1,98%. Ja as ações da Vale mostram alta mais contida. A PNA subia 0,56% e a ON +0,65%.

A maior alta do Ibovespa às 14h09 era Cesp PNB, com 6,46%. A avaliação dos analistas é de que o prejuízo de R$ 2,392 bilhões no quarto trimestre do ano passado em relação ao mesmo período do ano anterior foi influenciado pelo reconhecimento de provisão de redução ao valor recuperável de ativos, no total de R$ 2,467 bilhões. Analistas do Morgan Stanley também consideraram positivo o resultado operacional da estatal paulista nos três últimos meses do ano.

Do lado negativo, estava Redecard ON, com perda de 6.77%. Os papéis, que respondem pelo terceiro maior giro financeiro do Ibovespa, são pressionados pelo temor de uma regulação mais rigorosa do setor de cartão de crédito. O Banco Central divulgou ontem estudo que mostra que o setor tem barreiras que inibem a concorrência. Esse estudo é a primeira fase de um projeto em que a sociedade encaminhará sugestões e críticas aos órgãos reguladores, que posteriormente decidirão sobre aperfeiçoamentos para aumentar a eficiência do setor.

(Sueli Campo)

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